Escrito por Roberto Macchiute
Se você sair pela ilha andando "sem lenço nem documento", como cantava Caetano Veloso em uma de suas músicas no início dos anos 70, certamente encontrará alguma novidade para comentar com seus amigos. Foi o que aconteceu comigo nessa sexta-feira de feriado prolongado, onde, por motivo de grana curta, resolvi não viajar.
Um dia bonito de sol colocou-me fora da cama antes das sete da manhã. Não querendo perder o feriado inutilmente, resolvi fazer uma caminhada diferente do habitual, pois meu percurso sempre é em direção a Praia da Bica, onde fico no calçadão prá-lá-e-prá-cá, até me cansar. Mas nesse feriado não! Iria fazer uma rota diferente. Resolvi que tomaria o rumo de Tubiacanga, um bairro da ilha quase nunca explorado e desconhecido por mais de noventa por cento da população insulana.
Logo no início da estrada para Tubiacanga existe uma guarita em que o segurança não barra ninguém, porém muita gente fica com esse receio e nem se atreve a passar. Ao ultrapassar a suposta zona de bloqueio, uma estrada rodeada por uma mata densa e pelo muro do Aeroporto Internacional Tom Jobim dão o tom do lugar. Ao fundo vê-se a Baía de Guanabara. Após a primeira curva a estrada já começa a surpreender. Do lado direito de quem vai, aparece uma novidade.
Uma entrada tipo de fazenda, bem cuidada, com um portal pintado de branco indicando a entrada na mata. A aparência bonita do lugar gera a tentação de entrar, e foi exatamente isso que fiz. Quando adentrei a área da floresta, pude ver que o local estava muito bem cuidado, apesar de não ser propriedade particular.
Caminhos, bancos, cadeiras embaixo de árvores frondosas formavam recantos encantadores e bastante agradáveis e, por isso, atraiam grande número de pessoas para "Orar a Deus", como bem informava uma placa afixada numa das grande árvores do espaço. Pude notar que o local estava sendo muito bem cuidado por diversas igrejas evangélicas que lá faziam encontros religiosos com seus membros.
Voltando para a estrada, a essa altura já estava gostando muito da aventura. Continuei seguindo com destino a Tubiacanga. Uns cem metros adianta, do lado esquerdo, notei alguns automóveis parados com carretas que levavam bicicletas e motos trail, ou seja, fora de estrada. Resolvi então dobrar a esquerda. Aí aconteceu a segunda surpresa.
Dezenas de pistas rústicas para a prática de fora de estrada com bicicletas e até motocicletas esportivas acompanhadas de verdadeiros atletas paramentados para essa atividade, pude ver na minha frente.
O colorido das vestimentas contrastando com os das máquinas fizeram-me sentar e ficar observando por longo tempo as piruetas nem sempre fáceis de realizar. Achei o espaço muito interessante para o insulano praticar esse tipo de esporte, inclusive podendo servir como área de lazer para nossas carentes garotadas. Achei interessante que existia naquele momento um trator arrumando a área, mas, sem publicidade alguma que indicasse que viria a ser área de alguma empresa privada ou até mesmo da prefeitura. Não existem placas anunciando qualquer trabalho por lá e no entanto, o trator estava arrumando as pistas para as piruetas da gurizada. Quem está pagando, não consegui descobrir !
Voltei para a estrada, feliz da vida. Acho que essas duas descobertas já valeram por todo meu passeio pela área. Só que agora a empolgação tomou conta de mim. O que mais poderia vir dessa estrada que quase nunca ninguém passa? Continuei meu caminho para Tubiacanga. Depois da segunda curva fechada, finalmente cheguei no bairro mais escondido da ilha. Um lugar espremido entre o mais importante aeroporto do Rio e a Baía de Guanabara. Houve uma época em que a Aeronáutica, antiga proprietária do terreno, resolveu retirar todas as famílias da área, em grande parte de antigos pescadores da região, e transformar tudo em hangares para manutenção de aviões. Tentou, tentou por anos a fio, mas, não conseguiu. Então, desistiu da ideia e resolveu dar o título de posse para esses moradores e deixar eles viverem no lugar que lhes pertence por direito. A maioria tenta sobreviver da pesca e passa esse ofício de pai para filho a anos.
Tubiacanga, apesar da carência de hospital e da dificuldade de trabalho, já que a Baía de Guanabara anda muito poluída, vem crescendo e seus moradores, não se importando com as dificuldades da vida, são alegres e animados, apesar dos claros problemas por que passaram e que continuam passando para que nossos governantes vejam o bairro, pelo menos, igual aos restantes dos bairros da Ilha.
Conversando sobre os problemas da pesca com um velho pescador da região, pude notar o descrédito dele para com a melhora do local em que vive. Disse ele que os políticos, nessa época de eleição, aparecem por lá aos montes e prometem "mundos e fundos". Depois de eleitos, somem como um passe de mágica, para voltar somente quatro anos depois. A vontade de que o local tenha um entreposto para a venda de pescado, fruto do trabalho deles, faz com que recebam qualquer político com educação e simpatia. Esse local para a venda do fruto de seus trabalhos é, no pensamento deles, tão importante, que até esquecem de outras grandes necessidades que o carente bairro tem e nem comentam, como educação, saúde, transporte coletivo, saneamento básico, etc...
Mesmo não acreditando nos políticos ele mostrou, através desse diálogo, que no fundo, possui esperança de melhorar o desenvolvimento do bairro, não passando na cabeça dele, em nenhum momento, "abandonar o barco", ou seja, se mudar para um outro lugar. A vida daqueles pescadores e suas famílias era ali mesmo, nos fundos da ilha.
Mesmo não acreditando nos políticos ele mostrou, através desse diálogo, que no fundo, possui esperança de melhorar o desenvolvimento do bairro, não passando na cabeça dele, em nenhum momento, "abandonar o barco", ou seja, se mudar para um outro lugar. A vida daqueles pescadores e suas famílias era ali mesmo, nos fundos da ilha.
Terminei o dia num restaurante de peixe e frutos do mar espetacular de lá de Tubiacanga, onde almocei no "Capitania dos Copos", que indico a todos que desejam apreciar uma culinária de primeira qualidade a preços acessíveis.
Finalmente, depois de toda essa aventura, encerrei minha programação com o sol já se pondo no mar, num dos visuais mais fantásticos que já pude ver na vida.
Se você quer passar um sábado ou domingo fazendo uma aventura diferente, pode perfeitamente rumar para Tubiacanga. Depois você me conta !!!
Divulgação : BLOG DA ILHA DO GOVERNADOR ***
Olá Roberto, me chamo Francisco Madeira ,muito obrigado pelo artigo, encontrei este local ha uns 6 anos atras e me chamou a atenção, na época só havia uma pessoa que deixou de cuidar do local, ai eu como gosto e entendo , comecei a limpar o local, realmente, ele é público e ninguém sabe ao certo ha quem pertence, nos parece que é de propriedade da INFRAERO, cuido deste lugar desde então, sem pagamento algum, por puro prazer de ver não só os evangélicos que usam o local para fazer suas orações como pessoas que vão até lá para caminhar, fazer piquiniques enfim... quando comecei, fazia na enxada, facão e foice, as pessoas que viram meu esforço, se reuniram e doaram uma roçadeira movida a gasolina para facilitar meu serviço.
ResponderExcluirUm local calmo, agradável e seguro, quando puder volte lá
um forte abraço!
Madeira
adriana.madeira39@gmail.com
Olá Roberto! Obrigado pelo passeio que me proporcionaste de volta ao meu passado! Lendo sua excelente matéria sobre Tubiacanga, viajei no tempo.
ResponderExcluirQuando adolescente, na década de 70, Tubiacanga, onde morava um tio, era meu local de passeio favorito.
Morando no interior do estado há 25 anos, só consigo matar as saudades deste lugar através de fotos ou matérias em jornais ou blogs e quando as encontro, abro uma cerveja, coloco músicas da época (tipo Lady it's time to go, do Stu Nunnery) e viajo no tempo.
Mesmo este seu artigo já tendo completado 4 anos, é atual pra mim e me trouxe excelentes recordações.
Tenho um blog aqui no interior do estado (Porciúncula) e quando for ao RJ (onde não vou há mais de 10 anos), quero rever minha querida Tubiacanga. Até lá, só saudades! Valeu pela bela reportagem! Grande abraço! Val Oliveira/Jornal Tribuna/Blog Tribuna de Porciúncula