quarta-feira, 6 de junho de 2012

CRÍTICA & OPINIÃO : ENTREVISTA COM JAIME LERNER MOSTRA ALGUNS PROBLEMAS DAS CIDADES SEMELHANTES AOS DA ILHA !!



Numa entrevista ao Jornal O Globo de hoje (06/jun), o ex-Prefeito de Curitiba e consultor para questões de urbanismo da ONU, Jaime Lerner, especialista em cidades sustentáveis, entre outras coisas, defendeu que os governos precisam ter a coragem de recusar investimento industrial, caso eles sejam poluentes. Essa fala veio de encontro ao que está acontecendo na Ilha, mais precisamente na Ribeira, com as empresas de combustíveis e lubrificantes ali fixadas que estão causando grande poluição ambiental em área considerada residencial. 






Nos dias de hoje é inaceitável que empresas multinacionais como essas que  funcionam na Ribeira, que podem poluir e causar desastres, convivam com residências e áreas de proteção ambiental como acontece na ilha. Sem contar o risco e a poluição causada por centenas de caminhões que diariamente trafegam com seus tanques cheios de combustíveis altamente inflamáveis passando por diversos bairros populosos em direção à saída da ilha. 

Leiam a entrevista de Jaime Lerner ao repórter Gilberto Scofield:

*Na sua opinião, como deve ser a abordagem do conceito de sustentabilidade pelas cidades?

Jaime Lerner: Todo mundo sabe que o conceito de sustentabilidade é importante e que se relaciona com o fenômeno do aquecimento global, mas ninguém sabe bem como contribuir para o tema. Eu acredito que a grande contribuição vem das cidades, porque 75% das emissões têm origem nas cidades, metade vinda dos carros. Então são as cidades que podem ajudar mais. Sem abrir mão de prioridades naturais das prefeituras, como investir em saúde, educação e segurança, os prefeitos devem agir em temas como mobilidade, sustentabilidade e convivência, que inclui a ideia de sociabilidade, quer dizer, o contato entre as pessoas.

*É por causa desta concepção que Curitiba é considerada a única cidade verdadeiramente sustentável do Brasil?

Jaime Lerner: Curitiba foi a primeira cidade a adotar soluções de mobilidade e não apenas  de transporte público. Foi o primeiro município a ter corredores exclusivos, os BRT's, que o Rio de Janeiro está implantando agora e que existem em 120 cidades no mundo. Fomos os primeiros, ainda na década de 70, a fechar ruas de carros para uso exclusivo de pedestres, como o calçadão da Praça XV. Enquanto a maioria criava uma parafernália para os carros, nós preparávamos a cidade para as pessoas. Fomos a primeira cidade a recusar indústrias poluidoras e ampliar parques. Os índices de áreas verdes na capital passou 0,5 m²/hab. para 52 m²/hab. Fomos pioneiros na aplicação do conceito de recursos hídricos e drenagem.

Quando muitos municípios estavam intervindo nos cursos dos rios, nós decidimos manter seus cursos naturais e investir em drenagem nas pavimentações de rua, um problema grave em São Paulo hoje. Garantimos a devida proteção dos fundos de vale e evitamos represas próximas dos centros  urbanos. Instauramos a coleta seletiva de lixo, de modo que a capital tem a mais alta taxa de separação de lixo do mundo. Porque o lixo contamina os cursos d'água. Tudo isso trouxe o aumento na qualidade de vida e, como consequência, mais investimentos para a cidade. Quando fui governador, em quatro anos atribuímos US$ 20 bilhões em investimentos para o Estado. Os prefeitos precisam ter a coragem e inteligência para decidir que tipo de investimentos querem atrair para seus municípios, porque a verdade é que, se a qualidade de vida cresce, os investimentos chegam.

*E como os moradores das grandes cidades podem ajudar para torná-las mais sustentáveis?

Jaime Lerner: Usar menos o carro, separar o lixo, morar mais perto do trabalho ou trazer o trabalho para a casa e fazer uma equação equilibrada entre aquilo que consome e aquilo que desperdiça, pensar se precisa mesmo consumir aquilo. O conceito de sustentabilidade é um estilo de vida que inclui lazer, trabalho, mobilidade, espaço público, tudo junto.

*E do ponto de vista dos governos?

Jaime Lerner: Muitas reuniões não surtem efeito porque não focam no que pode ser feito. Não adianta dizer que vai reduzir as emissões em 20%. Vai reduzir como? Se os países investissem por meio das cidades, já teríamos bem menos problemas.

*Mas o que impede as prefeituras de agir?

Jaime Lerner: A postura precisa ser assumida com vontade política forte e determinação de fazer. Porque, em geral, os governantes delegam essas medidas à burocracia do governo. Mas a burocracia morre de medo de assinar qualquer coisa e tomar qualquer decisão. Nós fizemos tudo no Paraná com o Ministério Público no nosso pé. E só o que fizemos foi argumentar sobre a importância das medidas para a comunidade como um todo. Mas os governantes usam os MPs e os movimentos sociais como desculpa para adiar a tomada de decisões.

*Muitas prefeituras parecem mais focadas na questão dos metrôs.

Jaime Lerner: Há um falso dilema entre carro e metrô. É falso porque quando falamos em mobilidade, falamos em todos os sistemas possíveis. Uma rede ideal de metrô leva tempo. São Paulo tem um problema de trânsito terrível porque 84% de sua população se deslocam na superfície, apesar de todo o investimento nas quatro linhas de metrô. O sistema de trens funciona bem melhor que o de ônibus, mas os dois não recebem a devida atenção. Mas o fato é que a solução vem de um projeto que contemple todos os deslocamentos, não apenas mais linha de metrô.

*Por que os governantes morrem de medo de tirar uma faixa dos carros e passá-la para os ônibus?

Jaime Lerner: Porque não exergam que o itinerário de rotina das pessoas tem que ser feito com transporte público ou bicicleta. E você pode acrescentar componentes novos, que são os mais atuais em termos de mobilidade, como carros compartilhados e veículos elétricos.

*O Rio de Janeiro, sede do Rio+20, está fazendo certo?

Jaime Lerner: Fizemos o primeiro estudo de mobilidade para as Olimpíadas que foi a base para o projeto de candidatura vitoriosa da cidade. Não prometemos nada que não pudesse ser entregue, como a ampliação do metrô para a Barra da Tijuca e as várias linhas de BRTs. O Rio avançou muito em mobilidade.

*E por que as soluções adotadas em Curitiba e outros municípios não são ampliadas para todo o país?

Jaime Lerner: Porque os governos fazem testes e a população não acredita. É preciso aplicar as soluções. Ensinamos os conceitos às crianças nas escolas e elas ensinam a seus pais. O que importa é qualidade de vida e recursos humanos, além de uma visão estratégica sobre logística e infraestrutura para os produtos chegarem nas mãos do mercado da forma mais inteligente possível. Ninguém quer morar ou estabelecer negócios em cidades sem qualidade de vida. E a qualidade de vida gera mais empregos.


***  Da entrevista desse grande especialista em cidades, tiramos alguns itens que são problemas cruciais da ilha:

* Grandes multinacionais de combustíveis e lubrificantes poluindo nossa Baía de Guanabara, nossas áreas residenciais e de preservação ambiental.

* Faltam investimentos em educação, saúde e segurança.

* Investimento em drenagem e pavimentação de ruas.

* Falta coleta seletiva de lixo

* Faltam ciclovias


As ideias estão aí. Agora falta vontade política e muito trabalho para melhorarmos nossa ilha.




Divulgação :  ILHA EU AMO EU CUIDO - O Blog da Ilha do Governador ***





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